terça-feira, 10 de maio de 2011

O impacto da socialização da linguagem no desenvolvimento gramatical

Elinor Ochs e

Bambi Schieffelin

Resumo: Professora Márcia Regina Santos

Tópico escolhido: Uma oferta

Segundo Ochs e Schiffelin (1984), a socialização da linguagem tem sido amplamente estudada sem se considerar a dinâmica do desenvolvimento gramatical. É necessário explicar quando, como e por que as crianças usam e entendem as formas gramaticais no período inicial de suas vidas. Se levarmos em consideração as realidades culturais, veremos que a socialização da linguagem produz um modelo mais sofisticado do desenvolvimento gramatical, porque observa aspectos como ideologia e a ordem social como forças que organizam o uso e a compreensão das formas gramaticais pelas crianças. Se os estudos forem feitos desta forma, teremos um modelo enriquecido de socialização, afinal, explicará o desenvolvimento das crianças em termos de significados indexicais das formas gramaticais. Essa abordagem baseia-se no pressuposto de que, em todas as comunidades, as formas gramaticais encontram-se intimamente ligadas, não podem ser separadas.

A frequência com que uma forma gramatical é usada no ambiente da criança pode ou não estar relacionada ao tratamento que ela dispensa às formas gramaticais: uma construção gramatical pode estar presente em todo o meio auditivo da criança e, mesmo assim, ela pode utilizar esta construção somente em um ponto bem posterior de seu desenvolvimento. A relação entre audição e o uso da forma gramatical não é necessariamente automática, porque a criança pode estar sintonizada com certas indexações, mas não usar essa forma com frequência.

O diferencial entre uma abordagem da socialização da linguagem, tão defendida por Ochs e Schieffelin, e a abordagem funcionalista é que a primeira relaciona o uso e a compreensão a disposições, preferências, crenças e conjuntos de conhecimentos complexos e a segunda, fica apenas no nível do contexto de informação e ação imediatos das formas gramaticais. Na abordagem da socialização, o uso e compreensão de formas gramaticais pelas crianças são culturalmente reflexivos, ligados, de muitas formas, a visões locais de como pensar, sentir, saber, (inter)agir ou projetar uma pessoa social ou construir uma relação. Isso, entre outras coisas, a torna uma abordagem universal.

Dessa forma, a socialização da linguagem não tem fronteiras, porque as crianças estão sendo socializadas em todo o mundo, utilizando recursos gramaticais semelhantes para indexar pensamentos, sentimentos, conhecimentos, identidades, atos e atividades.

A abordagem da socialização da linguagem integra propriedades locais e universais da linguagem na cultura. Fornece, em especial, um modelo culturalmente organizado de meios-fins do desenvolvimento gramatical porque, em muitas culturas diferentes, os indivíduos pertencentes às mesmas baseiam-se em certos meios linguísticos semelhantes para atingir certos fins sociais semelhantes, como o uso de quantificadores para indexar a intensidade afetiva. Por outro lado, estes fins são culturalmente organizados em termos de abrangência situacional, ou seja, quem, como, quando e onde este fim é atingido de forma apropriada. Portanto, as comunidades são ao mesmo tempo parecidas e diferentes nas maneiras em que se baseiam em recursos gramaticais. E quando as crianças cruzam as fronteiras das comunidades linguísticas, também são parecidas e diferentes.

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